VIDA DE IMIGRANTE


Agora eu entendi - eu sou uma imigrante. Deixa eu explicar melhor:  é claro que eu já sabia que era uma imigrante. Mas era um conhecimento daquele tipo entendo-mas-não-caiu-a-ficha-ainda. Eu sabia que eu morava fora do Brasil - o que, vamos combinar, tem até um certo charme e glamour. Morar na Inglaterra, que sonho ! Aquelas mansōes rurais, a história, a cultura, o sotaque chique...  

Mas agora eu entendi que eu não apenas moro fora - eu sou uma imigrante. E isso é bem diferente. Eu li no blog da Margaret, que ser imigrante é viver no meio de "incertezas, medos, engolir muito sapo, matar um leão por dia, ter arrependimento, culpa, vencer obstáculos e sentir-se burro". Ah, concordo - acontece tudo isso - não ao mesmo tempo, graças a Deus ! - mas acontece.

Essa sou eu agora: me acostumando a ser uma imigrante. 

Como não sentir saudade?
A ficha caiu após uma reunião com brasileiros que moram em Liverpool. Eles se reúnem a cada quinze dias - gente muito boa, cada um com uma estória de vida. Vieram parar no Reino Unido por motivos diferentes e podem ser divididos em dois grupos: alguns estão meio de passagem - como o jovem que faz doutorado numa universidade britânica. Ele vai terminar sua tese, celebrar a conquista do diploma e voltar para o Brasil. Mas outros estão estabelecidos aqui de uma maneira permanente - são os imigrantes, o meu grupo:  são geralmente casados com ingleses e têm emprego fixo, como a médica que trabalha para o NHS (sistema público de saúde) e a empresária que está abrindo o seu salão de depilação, manicure e pedicure na cidade. 

Bem, esses brasileiros de Liverpool se reúnem, conversam, trocam experiências, lembram saudosos do Brasil, da família, dos amigos... Falam português - atividade às vezes meio esquecida ou difícil de ser praticada se você trabalha numa empresa inglesa, cercado por colegas ingleses, na Inglaterra... E se dedicam a uma atividade que parece ser comum a todos os imigrantes: comentar sobre as dificuldades que enfrentam. Imigrante que é imigrante ( principalmente o novato) reclama da adaptação: língua, comida, a cultura, pessoas - isso aqui é tão diferente do Brasil !

Essa sou eu agora: me acostumando a ser uma imigrante. Sentindo muuuuita falta da praia - mesmo que não tenha quase nunca pisado nas areias de Ipanema nos últimos meses que morei lá. Lembrando como era gostoso o calor de 40 C à sombra (aquilo sim é verão !) e aguando por um pão de queijo e um caldinho de feijão. 

Essa sou eu agora: aprendendo a entender o ácido humor britânico; decidindo se meu jornal favorito é, afinal, o The Times ou o The Guardian e me pegando apreciando a minha segunda xícara de chá pela manhã.  


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4 comentários:

  1. Tenho medo dessa parte também (medos, incertezas, decepções), como qualquer um que se meta a ser imigrante nessa vida. Mas devo dizer: o estilo de vida no Brasil tem me incomodado tanto que só consigo contar os minutos pra voltar a Londres para uma temporada mais longa. Inclusive, vou aproveitar a oportunidade e te agradecer por um post que vc fez sobre estudar na Inglaterra. A partir de alguns links que vc postou, consegui encontrar a pós que sempre sonhei. Agora esperar é que são elas. Entre encontrar o curso e ir, de fato, sao 2 anos de procedimento. Deseje-me sorte!

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  2. Maria: te desejo, de coração, toda a sorte do mundo !!!!!! Sucesso ! Bj Claudia

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  3. Bom dia Claudia, tudo bem? Minha esposa adora seu blog. Estamos morando em Liverpool há 3 semanas e seu blog foi muito importante para nossa decisão de escolher aqui. Gostaria de saber se ainda existe essa reunião quinzenal com os brasileiros. Obrigado!!

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    1. Oi Alessandro! Estao gostando de Liverpool? Olha, o grupo nao se encontra mais nao... Nos encontramos quando acontece alguma comemoracao, aniversario etc ...

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