MÉDICOS ESTRANGEIROS NA INGLATERRA


O projeto do Governo de levar médicos estrangeiros ao Brasil para atenderem os pacientes do SUS em regiões pobres, onde a assistência à saúde é considerada deficiente, tem causado muita polêmica. Vou falar hoje sobre a experiência do Reino Unido, onde o sistema público de saúde também emprega médicos de outros países, como Índia, Egito e Nigéria. O Reino Unido tem cerca de 253 mil médicos registrados - desse total 92 mil receberam qualificação profissional em outros países.


O General Medical Council (semelhante ao nosso Conselho Federal de Medicina) exige, é claro, documentação com comprovação de qualificação profissional. Mas o órgão não exigia certificado de proficiência em língua inglesa aos médicos que vinham da União Européia - cerca de 25 mil. Mas agora a situação mudou - mesmo eles vão precisar mostrar, a partir do ano que vem, que sabem se comunicar em inglês. Essa exigência da língua pode parecer um detalhe, mas não é.  Já houve inúmeras denúncias de casos de complicaçōes médicas causadas pela falta de entendimento entre médicos estrangeiros e pacientes / enfermeiras britânicos. Repito a indagação da colunista Claudia Collucci, na Folha de São Paulo, ontem: " Como é possível estabelecer uma relação médico-paciente, um diagnóstico correto, se o médico não compreende o paciente e vice-versa?"  


Existe ainda o temor que os médicos estrangeiros tenham tido um treinamento menos rigoroso. No final do ano passado o Sunday Telegraph fez uma reportagem afirmando que três quartos dos médicos impedidos de clinicar no Reino Unido eram estrangeiros. Só para ilustrar: em 2008, na região de Cambridgeshire, um paciente teve a morte causada por um médico nigeriano, que administrou uma dose 10 vezes maior do que a normal de um analgésico. O médico confessou ter se confundido com a diferença entre medicamentos usados no Reino Unido e na Alemanha, onde se formou. O caso, é claro, teve enorme repercussão no país.

Ou seja: trazer médicos estrangeiros é complicado. Na verdade, o problema não se resolve importando médicos - o governo deveria tratar da infra-estrutura do sistema de saúde: hospitais, postos de saúde, farmácias populares etc. Aliás, sobre o assunto, a cirurgiã carioca Juliana Mynssen da Fonseca Cardoso, ao escrever " O dia em que Dilma cuspiu no rosto de 370 mil médicos brasileiros ",  fez um lindo e emocionante desabafo que já foi lido por milhares de pessoas. 




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