A Inglaterra é um país onde a classe social de uma pessoa é identificada no momento em que ela abre a boca e pronuncia a mais prosaica das frases. Como isso é possível ? Bem, existe por aqui uma distinção muito clara entre o que é considerado uma forma de falar educada e sofisticada e uma forma de falar tosca e sem refinamento.
Resumindo: quando um inglês fala ele é imediatamente identificado e categorizado como elite ou não. Mas que fique bem claro, o conceito de classe, na Inglaterra, não está relacionado com dinheiro ou tipo de trabalho. Uma pessoa, por causa da maneira como fala, vai ser reconhecida pelos outros como chique e refinada mesmo se não tiver muito ou nenhum dinheiro e for desempregada. É claro que existem outros indicadores de classe, como sua escolha de vestuário, decoração, gosto por cultura, hábitos alimentares - mas, na Inglaterra, o código linguístico é o mais forte.
Você pode estar achando que essa estória de classe é muito antiga e irrelevante, mas acredite, ainda é super válida por aqui.
De uma maneira geral, no grupo dos chiques, estão, é claro, a realeza, a aristocracia e o pessoal da classe alta ou média-alta - pessoas que nasceram chiques, pois vêm de família com tradição social ou aqueles que têm escolaridade privilegiada, pois cursaram universidades de elite, como Cambridge ou Oxford, e aprenderam com a convivência com outros chiques e sofisticados.
No segundo grupo está o resto do povo - a maioria, é claro.
Mas como essa diferença acontece de maneira prática? A resposta, segundo a antropóloga Kate Fox, é simples: a sua pronúncia e escolha de palavras denunciam sua classe social.
Kate, que escreveu o interessantíssimo livro "Watching the English, The Hidden Rules of English Behaviour" (" Observando os Ingleses: As Regras Secretas do Comportamento Inglês"), explica que aqueles que estão no topo da pirâmide social - os aqui chamados de `posh people` - acreditam que só eles mesmos falam o inglês verdadeiro, o `proper English', que é gramaticalmente correto, claro e facilmente entendido por todos. Eles consideram que o inglês falado pelas classes sociais menos privilegiadas é um inglês confuso e muitas vezes ininteligível.
Mas a antropóloga argumenta que tanto chiques e não chiques têm características próprias na hora de pronunciar as palavras: se por uma lado as pessoas de classes sociais mais baixa têm por hábito `comer sílabas', os chiques 'comem' as vogais.
A questão da escolha das palavras é também interessante: segundo a antropóloga, uma pessoa verdadeiramente 'posh' nunca se refere ao banheiro como 'toilet', e sim como 'loo'; crianças chiques dizem 'mummy' e 'daddy 'e não simplesmente 'mum' e 'dad'. Se você quiser saber se leva jeito para ser um inglês sofisticado, clique aqui e se divirta com esse teste on line (em inglês).
O ex-primeiro-ministro do Partido Trabalhista Tony Blair disse, ao assumir o cargo, uma frase que ficou famosa: "We are all middle class now" ("Somos todos classe média agora"). Sei não... parece que esqueceram de combinar com os aristocratas e o resto da elite.
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