Imagine uma escola onde os alunos, se assim desejarem, podem deixar os livros de lado e brincar o dia inteiro. Onde o sucesso não é definido pela excelência acadêmica e sim pelo o que o próprio estudante considera como sucesso. Onde existe tempo e lugar para sentar e sonhar. Pois essa escola existe! Chama-se Summerhill, fundada pelo educador escocês A. S. Neill, em 1921, e localiza-se em Suffolk, a cerca de duas horas de trem de Londres. Nos dias de hoje, em que educação tem se afirmado cada vez mais como sinônimo de testes, avaliações, monitoramento e qualificações, Summerhill é um óasis de liberdade.
Summerhill respira democracia. O currículo - ou seja a lista das disciplinas que os alunos vão cursar - é flexível e negociado entre alunos e educadores. Todas as aulas são opcionais. Problemas - inclusive eventuais casos de bullying ou comportamento abusivo - são sempre discutidos em assembléias, com a presença de alunos, professores e funcionários, que se reúnem quase todos os dias. Não existe hierarquia em Summerhill - a opinião ou palavra de um professor vale tanto quanto a de um aluno.
O ambiente é espetacular - muito verde e tranquilidade. Os jovens, que permanecem na escola em regime de internato, são estimulados a praticar exercícios e jogos ao ar livre, Mas não há pressão - participa quem quer, quando quiser. As atividades, aliás, são organizadas pelos próprios alunos. E não se assuste com a palavra ´internato´, que tem uma conotação negativa em português. Na escola, o conceito de internato não rima com castigo ou neura.
O fundador da escola, A. S. Neill |
Essa liberdade toda não significa que a escola não tem regras. Segundo o educador brasileiro Augusto Cuginotti, que trabalhou dois anos em Summerhill, a escola "se auto-regula usando uma média de 200 leis criadas pela própria comunidade, a maioria proposta por alunos. Não se trata de ter ou não ter regras, mas na possibilidade de criá-las, abandoná-las e a liberdade de trazer um assunto à pauta quantas vezes for necessário".
Summerhill foi revolucionária para a época de sua fundação. Imagine só a modernidade de Summerhill - na década de 20, as escolas, no Reino Unido, eram sinônimo de disciplina muito rígida. Era comum crianças que não correspondiam às expectativas de professores apanhassem com régua e ficassem de castigo. Summerhill chegou para chacoalhar conceitos e desafiar padrões de ensino. Apostando na idéia revolucionária de uma escola-comunidade - formada por uma parceria entre crianças, jovens e adultos (diretor, professores e funcionários) -, Summerhill tem desde sempre resistido às críticas e pressões de autoridades conservadoras que já tentaram até fechar a escola.
As vagas (poucas, cerca de 100) para Summerhill são muito disputadas - a escola é uma Torre de Babel, com alunos oriundos de lugares tão diferentes como Canadá, Suiça, Alemanha e Israel. Estatísticas da Rede Internacional de Educação Democrática mostram que Summerhill não está sozinha no mundo - há mais de 200 escolas com uma proposta de ensino semelhante em 28 países, atendendo em torno de 40 mil alunos (inclusive no Brasil). Não é muito, mas é alguma coisa.
Pensar sobre Summerhill é pensar sobre a função da educação - e foi isso que a BBC fez há alguns anos com a série `Summerhill`, que levantava a questão: devem as crianças e jovens ser alimentadas com fatos e informações por meio de um currículo nacional ou a educação tem outro propósito, o de ensiná-los a assumirem a responsabilidade e o controle de suas próprias vidas e destinos?
Me parece que a pergunta continua atual e relevante. E como estarão os ex-alunos da escola ?, você pode estar se perguntando. Segundo o professor Cuginotti, o balanço é positivo - você pode ler depoimentos de alguns deles nesse livro aqui (em inglês). Para saber mais sobre a escola você pode ler esse livro aqui em português, escrita pela filha do fundador da escola em parceria com outros autores.
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Nao sei o que o resto do mundo esta esperando. . .
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